Tenho andado a pensar, nesta altura, que enquanto se estuda design, existe uma certa euforia pelo desenho. Não sei até que ponto esta minha ideia decorre por estar numa faculdade de artistas, em que passamos, no mínimo, três anos à volta de cavaletes e folhitas X.P.T.O.
Na verdade, poucos são aqueles que acharam as aulas de desenho produtivas, emocionantes ou úteis, de qualquer forma, a tal euforia do desenho acaba por vir à tona num dos mais elementares produtos de design - o logótipo.
Comecei a constatar que existe uma certa tendência para o desenho, o bonequinho, o circulozito, um elemento qualquer com piada... para acompanhar um nome.
O nome - deveria ser o que de mais importante uma entidade tem, mas esta mania de por mais qualquer coisa, acaba por reflectir, na minha opinião, um certo medo pelo vazio, pelo simples ou mesmo simplório. Um medo que é constante nas aulas, onde o aluno pensa que o professor vai achar que ele não teve trabalho nenhum, que se limitou a ir buscar uma font qualquer e que simplesmente a pôs ali. Um medo perpétuado quando se está no mundo do trabalho, a responsabilidade é a dobrar pois acaba-se por lidar com o patrão e o cliente.
Porque é que a solidão da tipografia assusta tanta gente? Porque achamos que florear as coisas vai camuflar ou dar melhor aspecto ao trabalho? Porque somos mal educados em relação a esta matéria?
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Há coisa de um mês, num café com um grupo de gente a tomar um copo, um colega tirou do bolso um papel com o nome da empresa em que está empenhado a ver crescer. Uma pequena produtora de filmes, feita por um grupo de amigos. O nome está decidido há muito tempo, assim como a sua decisão para o lettering. Como pessoa cheia de planos, chegou à conclusão que não bastava o nome, que na minha opinião é extenso, mas que faltava ali uma figura. Nessa folha de papel, alguém rabiscou a cabeça de uma figura qualquer. Ele estava fascinado, empolgado.
Estive uns bons minutos a tentar fazê-lo entender que o que ele queria só o levaria à desgraça. Provavelmente esqueceu-se que eu até percebia um bocadito do assunto, mas aproveitei para mostrar que a extensão horizontal que foi criada era demasiado grande; que para colocar num cartaz ou num outro ambiente, era mais complicado; tentei fazê-lo entender que a figura não acrescentava nada ao que as pessoas iam pensar da empresa, pois elas continuariam pouco esclarecidas e mais valia ter só o nome pois era isso que ficava presente, e que a associação de "Filmesdamente" com uma cabeça ao lado chegava a ser redundante, para não dizer ridícula.
Por momentos, penso tê-lo convencido.
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Por volta dessa altura, lembro-me de ter ouvido na televisão acerca da nova marca criada para a Kate Moss. Esta informação foi-me tão indiferente tal como a modelo. Até ter visto o design para a identidade.
Criada por Peter Saville e pelo especialista em tipografia Paul Barnes, esta marca, entre as cerca de vinte criadas, foi a que funcionou melhor.
Depois da pequena manipulação da tipografia Al-bro (alfabeto desenhado por Alexey Brodovitch em 1950), este é o resultado. Uma tipografia que é difícil de manusear pela sua estrutura de contrastes, mas que acabou por encaixar com o pretendido. Uma felicidade de nome e arranjo.
Al-bro (original)
Al-bro (modificado)
Marca final de Kate Moss
Neste caso, poderíamos dizer que não há professor a repreender.
1 comentários:
12 de agosto de 2008 às 22:09
Bom dia,
Depois de termos visto o seu blog Ponto em Branco venho convidar a vossa equipe
para uma colaboração com a revista Atol. Vimos por isso pedir autorização
para publicar o artigo "teoria do malandro" na nossa revista. O artigo seria
devidamente creditado com o nome do autor e, se pretenderem, com uma referência ao vosso site.
Segue-se uma breve apresentação do nosso projecto.
A Atol ( www.atolmag.com ) é uma revista multi-temática bimestral, criada pelo estúdio
IDEOMA (www.ideoma.pt).
Esta revista está à procura de colaboradores para dinamizarem este espaço ao nível
da escrita.
Trata-se de um projecto inovador em todo o seu aspecto formal, permitindo o acesso
a pessoas com necessidades especiais como as pessoas cegas e amblíopes através
da Audiozine, segundo uma elaboração cuidada e ricamente ambiental dos artigos da
revista, explorando da melhor forma o mundo audível, como se de cores e formas se
tratasse.
Neste momento encontra-se online apenas a versão demonstrativa designada
"Incubação" na qual se encontram apenas alguns artigos. A primeira edição da revista
está agendada para o dia 1 de Outubro.
Esperamos contar consigo para uma colaboração
Disponha para qualquer questão
O nosso email é: geral@atolmag.com
Com os melhores cumprimentos
Tiago Cartageno
www.atolmag.com
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