Break para leitura

Mês passado, enquanto esperava pelo meu comboio que me levaria de fim-de-semana para longe do monitor, folheei as páginas fotocopiadas do livro "Essays on Design 1" publicado em 1997, Inglaterra. Um velho livro, cheio de velhos textos, velhos ensaios sobre o tão pouco falado design.
Depois de um dia de trabalho, e com um panike estragado na mão, fui conduzida por um post-it que tinha colocado tempos antes para não me esquecer de ler o artigo do italiano Franco Grignani - Symbols' language for our age (1994). Este texto veio de encontro a algumas ideias, ainda hoje, não muito bem compostas sobre aquilo que vou vendo e sentindo; sobre aquilo que nos ensinam nas aulas e na comprovação real do que sempre nos disseram, ou nem por isso.
A velha questão do artista e do designer, da ligação que ambos têm, querem ter ou repugnam, acaba por ser algo que tenho visto muitos designers falar. Mas neste texto, é levantado o problema do objectivo pelo qual nos conduzimos - o de mostrar a mensagem em todo o seu esplendor, o ver e o sentir num só "objecto" exposto a nu, e a qualidade que muitas vezes o espectador tem que possuir - um olho bem treinado. Para o autor, existe algo que se deve ter em atenção, a ligação entre sinal e superfície que o contém; as questões ópticas, cinéticas que para Franco, dadas as suas experiências, são uma mais-valia e um contributo de estimulo e comunicação física para o futuro do design, o nosso presente.

«O nosso design não está num quadro, não está sozinho na parede, mas vive na impressão, um espaço entre tantos espaços competitivos; ele vive nas paredes ao longo das estradas, esmagado e competindo com outra publicidade, outros sinais, outras cores. O nosso pequeno ou grande espaço não pode ser submerso, mas tem de preservar a sua pulsante e comunicativa "onda imagética" que o faz viver uma vida quase física»


A manipulação da imagem tem um poder que muitos desvalorizam, enquanto uma distorção desencadeia uma série de relações vivas que não se destroem a elas mesmas, a tensão por elas produzida é que poderá levar a um desconforto real do observador. Talvez seja exactamente nesta fase que se fala em design invisível, no poder que o design tem quando bem produzido, bem orquestrado. O bom design acaba por estar ausente ao olho do utilizador, ao contrário do mau design que acaba por causar uma série de reacções em cadeia - o desconforto, a perda de interesse, a desistência, o simples facto de obrigar o utilizador a pensar demais, a pura irritabilidade que, por exemplo, me causa quando passo pela publicidade do Campofrio e o seu "Peruque...". Soluções menos felizes podem produzir tensões indesejadas.

No texto, houve um excerto que me levou a alguns momentos de reflexão e divagação:

«Seremos ainda artistas nesta altura? Criatividade e técnica passam por cima e mudam os significados, as imagens e as sensações, actuando fisiologicamente no olho humano, não como um encantamento estético mas como movimento, som, sentido do toque.»

Se bem que um pouco longe daquilo que o autor quis dizer, levantei algumas perguntas a mim mesma. A problemática da criatividade aliada à técnica leva a alguns problemas. Tendo em conta que existe quem ache o design uma técnica e nós meros técnicos/executores - quando é que deixamos de ser designers (pensar, criar, inovar, reflectir) e passamos a ser simples executores, senhores do copy/paste, da grelha e das guias?

Soluções rápidas, respostas imediatas levam a resultados de primeira aposta, mas quando um projecto tem um espaço de tempo razoavelmente longo, os trabalhos de curto espaço tomam poder por uma questão de prazo.
De uma forma muito aligeirada, um bom designer no mundo do trabalho actual, é grandioso quando tira seis no primeiro lançamento dos dados.

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