Percorria o jardim da Cordoaria em direcção à outrora Cadeia da Relação. Na praça, a garotada da zona jogava futebol e usava as próprias camisolas para baliza, enquanto um velho os olhava com curiosidade e uma rapariga, que se vestia de forma demasiado adulta para a idade, mexia o polegar freneticamente sobre o teclado do telemóvel.
O velho edifício, que reteve Camilo Castelo Branco entre barras de ferro, e que mais tarde foi remodelado pela equipa dos Arquitectos Eduardo Souto Moura e Humberto Vieira, ali estava... de um amarelo pálido que as paredes cinzas esbatiam, e uma porta entreaberta.
Nunca percebi porque é que aquelas portadas nunca estiveram inteiramente abertas como convite de entrada. Quantos que ali vivem sabem o que aquele edifício é ou representa?
Não cheguei a entrar, bastou uma espreitadela para a entrada mal iluminada, para as paredes decadentes, para a inexistência de gente, para a falta de sinalização de algo novo que pudesse estar a acontecer.
Nada! Nada mais há para ver que a colecção tirada dos cofres que a instituição foi comprando ao longo dos últimos anos. Desde 1996 que o CPf, criado pelo Ministério da Cultura, apoiava iniciativas e projectos de fotografia. Uma arte tão mal aproveitada e valorizada neste país de longos atrasos culturais.
No inicio do verão passado, falou-se no fecho e transferência do centro para Lisboa. Houve uma vergonhosa manifestação da qual não se ouviram repercussões, houve abaixo assinados, petições... Hoje, vemos os restos de uma faixa velha que tomba da varanda, não temos notícias nem exposições para ver, mas apenas permanece no ar a promessa de não fechar as portas, mesmo com problemas economicistas para pagar os funcionários e para investir. De acordo com Maria do Céu Novais, assessora da Ministra da cultura (Isabel Pires de Lima), in Público de 6 de Abril 2006, "O CPF deixa de ter competências de apoio à fotografia, que transitam para a nova Direcção-Geral de Apoio às Artes". No final das contas, o CPf subordina-se a entidades que nunca tiveram responsabilidade e/ou experiência na área da fotografia. Paralelamente, o Ministério da Cultura não esclarece.
Por enquanto, e pela fé na mudança, somos espectadores do definhamento desta instituição rica em história e que dá os últimos golpes de vida.
Tenho saudades de lá ir e sentir que fiz algo de digno para mim e para esta cidade. Ao que consigo constar, o Porto ofereceu-me pouco mais neste sábado que uma rápida vista de olhos pela “Festa das Flores” na Avenida dos Aliados; menos de meia dúzia de pessoas a vender as flores de sempre. Estamos enterrados numa pobreza de espírito profundo que promete continuar.
Links:
Página do CPf,
Legislação para o CPf,
Petição para o Governo.