Olhem, olhem, o Nick Knight veio a Portugal!

Portugal por aí fora...

A esta altura já todos nos deparámos com os cartazes espalhados pelas ruas e ainda as noticias que foram copiosamente transmitidas sobre a nova campanha de Portugal.
Felicitam-se os convidados que não levaram nem um tostão para serem fotografados e que boa parte da verba da campanha (tirada da gaveta do Zé Povinho) foi parar aos bolsos de um tal fotógrafo Nick Knight.

Mas que raio é Nick Knight? Todos se perguntam... mais um estrangeiro a tirar lugar aos lusos, muitos dizem.

Nick Knight é bastante conceituado, de facto. Não é o fotógrafo conservador e da foto-reportagem, não tem livros de capa castanha e a cheirar a velho. Ele mostra uma atitude conceptual e urbana, uma forma de representação fora do comum muito ao jeito do britânico citadino experimental.
Já fotografou personalidades que vão de Bjork a Suede e muitos trabalhos em fotografia de moda.





Não querendo entrar em velhas histórias sobre ser mal ou bem a contratação de estrangeiros para fazer trabalhos, principalmente criativos, representativos de uma cidade ou neste caso para o país, vejo-me na necessidade de criticar alguns pontos de fraqueza por parte da organização da campanha.

Passo a citar o texto público:

«Europe’s West Coast - Governo lança Nova Imagem de Portugal

Portugal Europe’s West Coast é a assinatura da nova campanha de promoção do país que pretende alterar a percepção externa da imagem de Portugal, posicionando-o como o País moderno, inovador e empreendedor que já é na realidade.

A campanha associa o país ao Oeste da Europa (Europe’s Weast Coast) e a conceitos de modernidade, inovação, tecnologia, empreendorismo e qualidade de vida, promovendo Portugal como um todo, desde o turismo, economia, comércio e cultura, e qualificando a oferta dos recursos, pessoas e produtos nacionais.
(...)
A campanha explora a ligação com os talentos nacionais com expressão internacional como Cristiano Ronaldo, José Mourinho, Nelson Évora, Vanessa Fernandes, Mariza, Miguel Câncio Martins, Maria do Carmo Fonseca e Joana Vasconcelos, os oito rostos que serão utilizados nesta campanha, entendidos como símbolos de um Portugal moderno e vencedor.
Esta campanha pretende ser uma alavanca na captação de investimento e na atracção de talento, visando tornar o país mais competitivo, consolidando ao mesmo tempo a sua imagem de grande destino turístico e o seu cariz cultural.
(...)
De acordo com o ranking do Banco Mundial, Portugal está entre os 40 melhores países para fazer negócios, é o segundo país mais desenvolvido da Europa em práticas de governação electrónica e um líder mundial na utilização de energias alternativas.
(...)
Todas estas mais-valias, feitos e capacidades merecem ser divulgados e projectados no exterior para se mostrar verdadeiramente uma imagem do País adequada à realidade.
Este projecto do Ministério da Economia e da Inovação, realizado pelo Turismo de Portugal e pela Agência para o Investimento e Comércio Externo de Portugal (AICEP), tem o apoio do PRIME.»

in Turismo de Portugal

Portugal, por muita pena que tenha não tem sido um grande país empreendedor, para além do turismo com as suas estâncias balneares de luxo e a construção de shoppings um maior que os outros, poucas sãos as inovações nacionais, principalmente no que se refere à cultura. O “cariz cultural” acaba por se ficar nos monumentos que por serem grandes demais não foram vendidos ao estrangeiro e que por cá ficaram e mostrando-se hoje nos roteiros, mas que caem aos bocados por não poderem ser restaurados a cuspo.
A única “atracção de talento” tem sido, tal como um íman, mas com pólos iguais, a “atracção” leva a cada vez mais gente a procurar emprego em outras banda, principalmente na vizinha Espanha.

A imagem verdadeira deste país acaba por se ficar em usar e abusar das identidades que se fizeram ouvir lá fora. Até um pobre filho de imigrante que nunca por cá passou pode vir a ser um sucesso nacional, porque por cá, tudo o que tenha cheiro de sangue português e que por algum motivo apareceu na televisão pode ser simplesmente um feito nacional.

Agência: BBDO, Lisboa, Portugal
Director Criativo: Pedro Bidarra
Fotógrafo: Nick Knight

Pondo posições nacionalistas de parte, e focando a nova imagem Tuga, não entendo a escolha deste fotógrafo. Tudo bem que ele é moderno, ousado... mas a sua imagética não se adequa de todo ao que o País é de facto. Não é o mar que que faz de nós o que somos, nós somos mais que costa. Já é hora de ultrapassar esta síndrome dos Descobrimentos, já era!

Gostos em posição, porque por vezes gostos discutem-se, não gosto mesmo nada disto. Mesmo tento a ver com a atitude visual propria dos trabalhos de Nick Knight, está um tanto fraco, pobre até. Além disso, porque não foi ele que tratou do grafismo posterior dos cartazes, os designers da BBDO tiveram umas escolhas muito... muito criminosas.
Porque raio cortaram a cabeça das pessoas? Que raio de escolha foi esta de pôr o layout como se fosse um postal?

Muito sinceramente... isto não é uma campanha pró-Portugal é, antes de mais, uma campanha ao Nick Night. “olhem, olhem, o Nick Knight veio a Portugal!”