Já vão uns dias após a vinda de Sagmeister ao Porto, foi preciso deixar a poeira assentar e esquecer que esta personagem, que qualquer designer ou aspirante a isso, conhece de trás para a frente, esteve em carne e osso na Casa da Música. Esta instituição, trouxe à cidade um dos designers mais conhecidos em todo o mundo.
Ao fim de dois anos, a Casa da Música honra-se de apresentar Sagmeister como o designer que se encarregou de projectar a imagem que estará em vigor nos tempos que se seguem, muito embora por tempo indefinido, tudo dependerá da forma como for conduzida a relação dos dois designers responsáveis, Sara Wester e André Cruz, com o cliente.
O facto é que a sua vinda foi muito falada pela comunidade de designer, mesmo assim, me pareceu que a informação se manteve estritamente a este ciclo e mesmo o próprio Sagmeister se mostrou surpreendido pela plateia nada leiga ao assunto.
Uma casa cheia e gente ainda à porta... a Sala 2, albergou por uma hora dezenas de pessoas confortávelmente sentadas e outras tantas que acabaram por ficar no chão, um sacrificio insignificante dado o acontecimento.
Antes de entrar, na entrada, percorri rapidamente com o olhar os cartazes de amostra. Preferi não dar juizos de valor antes de ouvir e perceber tudo desde o inicio.
Como personagem de grande humor, iniciou a sessão falando de um caso na sua terra natal, Austria, de quando um designer estrangeiro foi fazer o design de uma instituição nacional e o descontentamento que residia dentro da comunidade de designers do país. Um outsider acaba sempre por ser alvo de especulações mais intensas, talvez por isso é que estavam na plateia, naquela tarde, aquelas pessoas e não outras.
O ínicio da apresentação definiu a posição central que o logotipo vai ter. Embora sinta desagrado pelos logos que resultam de uma estilização dos próprios edificios, Sagmeister afirma ver na Casa da Música o próprio logo.
A partir deste ponto, foi criado um programa que gera 6 logos distintos, captados pelas vistas em 360º do edificio. Com o sistema de grelha, ele capta da imagem a ser utilizada para o cartaz, 17 cores (color generator). Essa cor, por sua vez preencherá uma face de um dos logotipos.
Regra geral, todo o cartaz terá de conter um logo, escolhido de entre os 6, e a própria composição exige que contenha as formas da Casa da Música, sejam elas em desenho, em jogos de reflexos ou em forma de cristal com transparências.
Como em Casa da Música há música, a apresentação da sonoridade acabou também por ser abordada. Mais uma vez o logótipo como objecto sonoro. Cada nota tocada com a simultaneidade de uma cor que se apresenta no molde tridimensional. Uma aposta que poderá ser aplicada em spots publicitários.
Sendo a forma, elemento central para toda a identidade, elemento omnipresente, também no futuro website reside a ambição de colocar câmaras a toda a volta do edificio para que o utilizador tenha em tempo real a percepção do que se vai passando – as suas mudanças de cor, luz, actividade.
Após esta apresentação, falou do seu trabalho pessoal, de como aborda o seu trabalho de acção e, aqui sim, mostrou o Sagmaiser que todos anseiam ver.
Através do que chama ser “Impossible Typography”, desenvolve algumas ideias e pensamentos que teve há uns anos. Retirou algumas frases e aplica-as em trabalhos para clientes e para autopromoção.
Uma colecção de trabalhos com uma mão cheia de criatividade, loucura e humor, onde se parte de jogos de associação e tipografia experimental.
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Como referi no início foi necessário acalmar os ânimos, pois não interessa que esse tenha sido um dos grandes acontecimentos de design do ano, que o trabalho dele seja de perder a cabeça... Interessa sim, dizer que o que ele fez não é nada do outro mundo.
Não sei se pela elevada expectativa que acho que todos tinham, se era porque tudo o que vemos dele é parte de uma selecção do que há de melhor e mais genioso do seu trabalho, mas a verdade é que fiquei com a ideia que até nem era preciso Sagmeister nenhum para fazer e pensar aquilo.
É certo que se criou um programa específico para os logos, é certo que as grelhas de trabalho estejam bem definidas, também é certo que fiquei com outra perspectiva sobre os cartazes da entrada depois da conferência; no entanto, não deixo de ter em mente o certo desapontamento que causou a mim e a outros tantos, mas que não foi abertamente dita na hora. Um pouco a medo e talvez esperança que no outro dia aquilo parecesse melhor.
Perdi o flyer do Urban Vibe, festa dessa noite na garagem da Casa da Música. O primeiro cartaz real que saiu com a nova cara. Perdi-o, mas se calhar ainda bem; colegas meus arregalaram os olhos quando viram e a mim quase me vieram as lágrimas aos olhos – palavras para quê!
Infelizmente, confesso que me sinto mal por proferir estas últimas palavras. Aquele é o homem que tanta gente adora, há quem o veja como mestre, outros até como um pequeno deus. Tem seguidores por todo o lado e clientes que lhe dão toda a liberdade para ele ser quem é. Apesar disso, aquilo que vi não me aquece nem me arrefece, mas com muita pena, afinal estava à espera de qualquer coisa arrojada, qualquer coisa que tirasse a respiração a qualquer profissional bem formado.
Sagmeister é homem que começou a carreira mostrando o seu órgão genital, foi quem flagelou o seu próprio corpo, foi quem se pendurou duma janela do Empire State Building... tudo para o trabalho e para o gosto que tem a ele, à vida que lhe dedicou.
"a minha auto exigência no trabalho consegue ser pior que os clientes a matá-lo"
Stefan Sagmeister
Link: Sagmeister, Inc.
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